sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Laji' oun mada el hayat, a mídia e o mundo não se importam

Laji' oun mada el hayat, Refugees for life, ou, ainda, Refugiados para Sempre. Não importa o idioma. Não há palavras que traduzam com clareza a vida que levam os palestinos escondidos no Líbano. Sobrevivem com saudades de uma pátria inexistente, atolados na miséria, e cheios da incerteza do amanhã. O diretor libanês, Hady Zaccak, tentou mostrar ao resto do mundo um pouco dessa realidade que a mídia tanto mascara e ameniza. Ele produziu o documentário Refugiados para sempre, exibido no Festival do Rio 2008, na mostra Limites e Fronteiras. Pena que os cariocas não deram muito crédito! Na sessão das 19h30, do dia 9 de outubro, havia na sala de cinema do Centro Cultural da Caixa pouco mais de 10 pessoas.

Bem, mas voltando ao filme, ele monta um paralelo entre as histórias de 4 palestinos, Shafiq Shmaissi, Nagi Merhi, Fatima Fatayer e Jaber Abu Hawash, que vivem refugiados na cidade de Tyr, no Sul do Líbano. Durante todo o documentário, o diretor explicita o cotidiano de risco e dúvidas que essas pessoas enfrentam. Uma das maiores dificuldades, depois da fome, claro, é a questão do visto para permanência no país. Diante de uma vida anônima, eles se perguntam se não seria uma boa opção tentar a vida em outro lugar; a exemplo do que fizeram alguns de seus parentes os quais foram para a Alemanha. No entanto, o desenrolar da trama deixa claro que a sorte de sair do anonimato nesse país europeu é privilégio de poucos, assim como ocorre no Líbano. O filme termina com o último depoimento de uma senhora palestina, no qual ela faz um comentário, sussurando algo parecido com: "viver pra quê? (silêncio) O que é o futuro? Não existe mais esperança.".


Os dados ratificam a necessidade de se encontrar uma resposta para essa situação. Segundo entrevista concedida à Agência Brasil pela pesquisadora e integrante do Instituto de Cultura Árabe, Arlene Clemesha, a população palestina refugiada corresponde a um terço de todos os refugiados do mundo todo. Um terço! Apesar deste número ser absurdo, é, realmente, mais importante pra mídia ocupar o tempo do jornal televisivo com temas como eleição norte-americana e overdoses da crise financeira mundial. O papel explicativo e educativo do jornalismo vai, nesta altura do campeonato, para as cucuias.

Só para apimentar a discussão: uma pesquisa revelou que a maior parte das pessoas não entende bem o que significa o conflito na Palestina e acham que se trata de dois países independentes, Palestina e Israel, disputando uma região de fronteira. Ou seja, não sabem bulhufas!

E, então, fica a velha dúvida: a mídia não mostra (da forma que deveria) os conflitos por que o telespectador não quer ver, ou o telespectador não quer ver por que a mídia não incentiva?

Finalmente, é bom retornar ao início para uma reflexão: no dia 9 de outubro de 2008, sala da Caixa Cultura, exibição do Refugiados para Sempre, havia pouco mais de 10 espectadores...