quarta-feira, 24 de junho de 2009

Ética, TV e Verdade


A história verídica contada na montagem do filme Quiz Show vai de encontro a qualquer pessoa com um mínimo de ética, moral e senso de justiça. Quiz Show fala da realidade de um programa de perguntas e respostas, veiculado na NBC (National Broadcast Company), o 21, que premia com dinheiro e fama os ganhadores. O problema é que estes vencedores são escolhidos, produzidos, e permanecem no ar de acordo com os interesses dos patrocinadores do Programa.

A denúncia de que os resultados do 21 são manipulados leva o caso ao tribunal. No entanto, ao contrário do que pensou o advogado que investigou o programa, apenas os produtores são considerados culpados ao final do julgamento. Os principais responsáveis pelo erro saem ilesos e inocentes e os interesses financeiros da National Broadcast Company, assim como seus donos e representantes superiores, não são afetados. Esse final afirma o inquestionável e conhecido poder da mídia, que utiliza o número de ferramentas necessárias, passando por cima da ética, moral e justiça para se manter no ar.

O filme também levanta a questão da corruptibilidade diante da fama e do dinheiro. Os dois personagens principais, que em um primeiro instante não aceitariam a farsa de receber as respostas das perguntas antes da gravação de cada programa, são levados a trair sua própria ética e orgulho, pelo conhecimento intelectual que detinham, enganando a si mesmos e a um público de cinquenta milhões de telespectadores.

Outro pensamento que vem à tona com a montagem é o seguinte: o que prefere o público? Ser enganado e ter um herói que o faz ligar o botão da TV para ver uma celebridade intelectual produzida? Ou a verdade e honestidade do conteúdo a que assistem?

Quiz show mostra o poder, a fama e a ética, e nenhum deles ao mesmo tempo.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O Fabuloso Fábio

Há um tempo vi esse filme sobre a vida de Fábio Gouveia, mais conhecido como Fábio Fabuloso. E, posso afirmar que poucos documentários brasileiros que conheço amarraram tão bem, em 70 minutos que passam despercebidos pelo público, a dupla, linguagem-conteúdo; apresentando-os de forma integrada, coesa e criativa. Foi preciso, certamente, um bom roteiro, para que o diretor e também roteirista Pedro Cezar contasse a trajetória do surfista paraibano Fábio Gouveia, considerado um dos maiores brasileiros nessa categoria esportiva.

Além de ter texto e linguagem alinhados, o filme possui uma ótima trilha sonora. Inclusive, a Cinemateca Nacional adotou a ficha de músicas (ver abaixo) feita pelo site Adoro Cinema Brasileiro. O filme também recebeu o prêmio na categoria júri popular, como melhor documentário no Festival Internacional do Rio em 2004.

A produção, além de exaltar a carreira e vida pessoal de Fábio, que obteve vitórias pelo mundo afora em campeonatos badaladíssimos como os mundiais no Havaí e na França, acaba se tornando uma homenagem à Paraiba, terra de origem do profissional. Aliás, o sotaque paraibano faz com que a montagem ganhe um ritmo que representa com graça e carisma a história de Fábio. Não é à toa que o filme conquistou o público do Festival do Rio 2004.

Outra característica do documentário é a narrativa que, fazendo uma bela analogia, lembra a literatura de cordel (pequenos folhetos escritos com poesias ilustradas). O diretor passa essa idéia através da utilização de animações de figuras. Mais uma bola dentro para o nordeste! Afinal, esse tipo de literatura é típico da região!

É de produções como essas, que enaltecem o que o país tem de melhor, é que o Brasil precisa. Salve, Pedro Cezar!

Diretor e roteirista

O escritor Pedro Cezar, que nasceu na Cidade Maravilhosa, em 1966, é também jornalista. Além disso, já foi surfista profissional e apresentador de programa de TV, tendo estreado na telinha, em 1983. Pedro tem dois livro de poesia publicados.

Filmografia de Pedro Cezar:
2004 - Fábio Fabuloso
2000 - Trocando as Bordas (mediametragem)
1997 - Cambito 3 (mediametragem)
1996 - Cambito 2 (mediametragem)
1994 - Cambito (mediametragem)
1992 - A Prancha (mediametragem)
Prêmios


- As músicas do documentário Fábio Fabuloso:
1.Drop - (Marcos Cunha)
Marcos "KUZKA" Cunha
wurlitzer & viola de 10 - Kuzka
produzido por Marcos Cunha

2. Macumba Salgada no Mar - (Pedro Cezar & Marcos Cunha )
Marcos "KUZKA" Cunha - participação Pedro Luís
teclados & programações - Kuzka
orquestra de percussões - Zé Bruno
voz - Pedro Luís
produzido por Marcos Cunha

3. Apressado Come Cru - (Marcos Cunha)
Marcos "KUZKA" Cunha
guitarra, viola de 10,baixo, teclados & programações - Kuzka
guitarra - Jr TOSTOI
produzido por Marcos Cunha

4. Caminhos do Norte - (Zé Bruno)
Zé Bruno
percussão,teclados & programações - Zé Bruno
produzido por Marcos Cunha e Zé Bruno
5. Idalina - (anônimo)
Marcos "KUZKA" Cunha
viola de 10 & programações - Kuzka
vozes - Cecília & Sílvia Spyler
fala - Fabinho
produzido por Marcos Cunha

6. Sonhos de Sol e Sarfi - (Marcos Cunha)
Marcos "KUZKA" Cunha
viola de 10, baixo,guitarra, rhodes & programações - Kuzka
sanfona - Lars
percussão - Eduardo Oliveira
produzido por Marcos Cunha

7. Linha Encantada - (Pedro Cezar & anônimo)
Marcos "KUZKA" Cunha - participação Comadre Fulozinha
vozes & percussão - Karina Buhr & Isaar de França
produzido por Marcos Cunha

8. 3100 (Marcos Cunha)
Marcos "KUZKA" Cunha
wurlitzer,guitarra, teclados & programações - Kuzka
guitarra FX - Jr TOSTOI
percussão - Eduardo Oliveira
produzido por Marcos Cunha

9. BerimDrumba - (Plínio Profeta)
Superstereo
guitarra,teclado & programações - Plínio Profeta
produzido por Plínio Profeta

10. Curvas na Areia - (Pedro Cezar & Marcos Cunha)
Marcos "KUZKA" Cunha
voz,violão, rhodes, hammond, baixo & programações - Kuzka
sanfona - Lars
cavaquinho - Plínio Profeta
bateria & percussão - Zé Bruno
produzido por Marcos Cunha

11. Pilha Alcalina - (Marcos Cunha) BR-SUF-04-00012
Marcos "KUZKA" Cunha
viola de 10, teclados,vocal & programações - Kuzka
vocal - Juliana Bernabó
fala - Fabinho
produzido por Marcos Cunha

12.Genesis - (Zé Bruno)
Zé Bruno
bateria, percussão, teclados & programações - Zé Bruno
produzido por Zé Bruno

13. Água Fria - (Jr Tostoi & Mr Jam)
Jr Tostoi
guitarra & programações - Jr TOSTOI
percussão - Mr Jam
produzido por jr TOSTOI

14. Stileira - (Pedro Cezar, Marcos Cunha & Black Allien)
Marcos "KUZKA" Cunha - participação Black Allien
viola de 10, baixo, teclados & programações - Kuzka
produzido por Marcos Cunha
voz - Black Allien

15. Bombuaru - (Marcos Cunha & Edu "Gorba")
Marcos "KUZKA" Cunha
viola de 10 - Kuzka
tabla - Eduardo Oliveira
produzido por Marcos Cunha

16. Surf Malecon (Plínio Profeta)
Plínio Profeta
cavaquinho,teclado & programações - Plínio Profeta
produzido por Plínio Profeta

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Laji' oun mada el hayat, a mídia e o mundo não se importam

Laji' oun mada el hayat, Refugees for life, ou, ainda, Refugiados para Sempre. Não importa o idioma. Não há palavras que traduzam com clareza a vida que levam os palestinos escondidos no Líbano. Sobrevivem com saudades de uma pátria inexistente, atolados na miséria, e cheios da incerteza do amanhã. O diretor libanês, Hady Zaccak, tentou mostrar ao resto do mundo um pouco dessa realidade que a mídia tanto mascara e ameniza. Ele produziu o documentário Refugiados para sempre, exibido no Festival do Rio 2008, na mostra Limites e Fronteiras. Pena que os cariocas não deram muito crédito! Na sessão das 19h30, do dia 9 de outubro, havia na sala de cinema do Centro Cultural da Caixa pouco mais de 10 pessoas.

Bem, mas voltando ao filme, ele monta um paralelo entre as histórias de 4 palestinos, Shafiq Shmaissi, Nagi Merhi, Fatima Fatayer e Jaber Abu Hawash, que vivem refugiados na cidade de Tyr, no Sul do Líbano. Durante todo o documentário, o diretor explicita o cotidiano de risco e dúvidas que essas pessoas enfrentam. Uma das maiores dificuldades, depois da fome, claro, é a questão do visto para permanência no país. Diante de uma vida anônima, eles se perguntam se não seria uma boa opção tentar a vida em outro lugar; a exemplo do que fizeram alguns de seus parentes os quais foram para a Alemanha. No entanto, o desenrolar da trama deixa claro que a sorte de sair do anonimato nesse país europeu é privilégio de poucos, assim como ocorre no Líbano. O filme termina com o último depoimento de uma senhora palestina, no qual ela faz um comentário, sussurando algo parecido com: "viver pra quê? (silêncio) O que é o futuro? Não existe mais esperança.".


Os dados ratificam a necessidade de se encontrar uma resposta para essa situação. Segundo entrevista concedida à Agência Brasil pela pesquisadora e integrante do Instituto de Cultura Árabe, Arlene Clemesha, a população palestina refugiada corresponde a um terço de todos os refugiados do mundo todo. Um terço! Apesar deste número ser absurdo, é, realmente, mais importante pra mídia ocupar o tempo do jornal televisivo com temas como eleição norte-americana e overdoses da crise financeira mundial. O papel explicativo e educativo do jornalismo vai, nesta altura do campeonato, para as cucuias.

Só para apimentar a discussão: uma pesquisa revelou que a maior parte das pessoas não entende bem o que significa o conflito na Palestina e acham que se trata de dois países independentes, Palestina e Israel, disputando uma região de fronteira. Ou seja, não sabem bulhufas!

E, então, fica a velha dúvida: a mídia não mostra (da forma que deveria) os conflitos por que o telespectador não quer ver, ou o telespectador não quer ver por que a mídia não incentiva?

Finalmente, é bom retornar ao início para uma reflexão: no dia 9 de outubro de 2008, sala da Caixa Cultura, exibição do Refugiados para Sempre, havia pouco mais de 10 espectadores...


quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Viva Zapatero: humor e política existem juntos na mídia do Brasil?

A crítica ao Estado através do humor até acontece neste país. Programas exibidos em televisão aberta como o Casseta e Planeta e, o barato do momento, CQC, abordam de forma cômica o mundo da política. Mas, por que será que, mesmo o riso, uma ferramenta com forte potencial no que diz respeito ao exercício do pensamento, não consegue ainda atingir os brasileiros, como ocorre e, em ocasião específica citada abaixo, ocorreu com boa parte dos italianos?

Diante do abuso da liberdade de expressão, evidenciado na censura a um
programa feito para a RAI, rede pública de TV da Itália, boa parte dos cidadãos não se conformou, como o leitor pode conferir, se ler este parágrafo até o fim. A primeira edição do programa RAIOT exibiu encenações satíricas pesadas, desmascarando a hipocrisia do governo italiano e a repressão aos meios de comunicação públicos, imposta à sociedade do país, em meio a uma (ou quase) democracia, pelo então primeiro ministro, Silvio Berlusconi. No entanto os italianos só veriam a edição nº 1 do programa.
Nesta ocasião é que o documentário que estreou no Brasil em Abril deste ano, Viva Zapatero , foi produzido pela diretora e comediante de RAIOT, Sabina Guzzanti . Antes de produzir o filme, encenou e dirigiu peças teatrais sobre a polêmica. Ou seja, alguém se propôs a discutir o assunto e a iniciativa obteve resultado. As pessoas lotaram os teatros nos quais Sabina criticava os políticos e suas ações, da mesma forma que a atriz fazia em RAIOT. Muita gente foi às ruas protestar.

No entanto, isso não acontece aqui, nas ruas brasileiras, por exemplo, às terças e quartas-feiras, respectivamente, dias que sucedem a exibição de CQC e Casseta e Planeta! Aqui, ninguém fica indignado ao ponto de fazer alguma coisa, de agir!

É claro que se deve levar em consideração a tradição cultural e política dos dois países comparados. Mas, tratando-se do Brasil, país com relevante importância econômica na América Latina e, melhor (ou pior?), que faz parte do BRIC, grupo de prováveis potências mundiais, não está um pouco atrasado neste aspecto, não?

É possível que o brasileiro olhe para os programas humorísticos sobre política e pense: “agora eu me vingo. Enquanto eles roubam meu dinheiro, minha saúde, minha educação e meu lazer, eu me divirto vendo seus defeitos”. E o povo ri, acha engraçado e, depois, vai dormir. Literalmente. Só que, com esta postura, quem continua rindo são os corruptos, os reitores ladrões, os colarinhos brancos que não precisam botar algemas, e também os banqueiros que comem salmão na cadeia... e o povo fica mais pobre ainda, e mais conformado do que nunca. Bem, respondendo mais claramente ao título deste breve comentário: talvez até existam. Mas, adianta de quê? Ninguém entende nada “merrmo”.