quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Viva Zapatero: humor e política existem juntos na mídia do Brasil?

A crítica ao Estado através do humor até acontece neste país. Programas exibidos em televisão aberta como o Casseta e Planeta e, o barato do momento, CQC, abordam de forma cômica o mundo da política. Mas, por que será que, mesmo o riso, uma ferramenta com forte potencial no que diz respeito ao exercício do pensamento, não consegue ainda atingir os brasileiros, como ocorre e, em ocasião específica citada abaixo, ocorreu com boa parte dos italianos?

Diante do abuso da liberdade de expressão, evidenciado na censura a um
programa feito para a RAI, rede pública de TV da Itália, boa parte dos cidadãos não se conformou, como o leitor pode conferir, se ler este parágrafo até o fim. A primeira edição do programa RAIOT exibiu encenações satíricas pesadas, desmascarando a hipocrisia do governo italiano e a repressão aos meios de comunicação públicos, imposta à sociedade do país, em meio a uma (ou quase) democracia, pelo então primeiro ministro, Silvio Berlusconi. No entanto os italianos só veriam a edição nº 1 do programa.
Nesta ocasião é que o documentário que estreou no Brasil em Abril deste ano, Viva Zapatero , foi produzido pela diretora e comediante de RAIOT, Sabina Guzzanti . Antes de produzir o filme, encenou e dirigiu peças teatrais sobre a polêmica. Ou seja, alguém se propôs a discutir o assunto e a iniciativa obteve resultado. As pessoas lotaram os teatros nos quais Sabina criticava os políticos e suas ações, da mesma forma que a atriz fazia em RAIOT. Muita gente foi às ruas protestar.

No entanto, isso não acontece aqui, nas ruas brasileiras, por exemplo, às terças e quartas-feiras, respectivamente, dias que sucedem a exibição de CQC e Casseta e Planeta! Aqui, ninguém fica indignado ao ponto de fazer alguma coisa, de agir!

É claro que se deve levar em consideração a tradição cultural e política dos dois países comparados. Mas, tratando-se do Brasil, país com relevante importância econômica na América Latina e, melhor (ou pior?), que faz parte do BRIC, grupo de prováveis potências mundiais, não está um pouco atrasado neste aspecto, não?

É possível que o brasileiro olhe para os programas humorísticos sobre política e pense: “agora eu me vingo. Enquanto eles roubam meu dinheiro, minha saúde, minha educação e meu lazer, eu me divirto vendo seus defeitos”. E o povo ri, acha engraçado e, depois, vai dormir. Literalmente. Só que, com esta postura, quem continua rindo são os corruptos, os reitores ladrões, os colarinhos brancos que não precisam botar algemas, e também os banqueiros que comem salmão na cadeia... e o povo fica mais pobre ainda, e mais conformado do que nunca. Bem, respondendo mais claramente ao título deste breve comentário: talvez até existam. Mas, adianta de quê? Ninguém entende nada “merrmo”.